Os efeitos da maconha
no organismo
Joubert Lima Ferreira
A atividade de
modelagem foi proposta com o intuito de trabalhar o tema drogas com alunos de
uma turma do 8º ano do Ensino Fundamental, constituída por 26 alunos, com
idades variando dos 13 aos 17 anos em uma escola da rede municipal de Feira de
Santana-BA, onde leciono há dois anos. A escola em questão, localiza-se num
bairro periférico, onde existe um alto índice de tráfico de drogas e/ou roubos.
Para a realização da
atividade, agendei na escola uma tarde inteira e levei um vídeo, que tratava de
uma reportagem sobre o THC (tetrahidrocanabiol, principal princípio ativo da
maconha). Falei então aos alunos da importância de prestar atenção ao assistir
o vídeo, e a relação que eles fariam após a leitura, pois o este estava
diretamente relacionado a um problema que eles teriam que resolver durante a
aula.
Até esse momento, os
alunos não sabiam do que se tratava a atividade, qual tema ela abordaria.
Depois exibi o vídeo mais uma vez, pois alguns alunos haviam chegado após o
início da aula. Nesse momento, fui interrompido por um aluno que fez o seguinte
questionamento: “Professor! O que isso tem a ver com matemática?” Diante
disso, informei a ele que responderia a pergunta no final da nossa aula.
Após o vídeo ser
mostrado, solicitei que os alunos formassem grupos com 4 (quatro) estudantes
cada. Em seguida, distribui uma folha contendo as informações científicas sobre
a maconha, dados retirados de um site sobre o princípio ativo
THC e a situação problema, assim como as demais questões que ajudariam na
resolução da mesma.
Minha primeira
intervenção aconteceu ainda na leitura da atividade, pois os alunos não
compreendiam o conceito de meia-vida (Tempo necessário para que se reduza à
metade, nesse caso 24 horas). Fui ao quadro e
exemplifiquei, utilizando uma situação sobre um poço, o qual estaria cheio
de água e a cada 24 horas reduzia-se pela metade.
Após esta
intervenção, foi concluída a leitura da mesma. No momento de compreensão da
atividade, um grupo, gerou uma discussão sobre a quantidade de cigarros fumados. Os alunos não conseguiram
compreender o problema proposto na letra “a”, e a minha mediação foi
necessária, de modo a facilitar o entendimento dos alunos sobre o enunciado da
questão. As questões propostas foram as seguintes:
a) Como é
possível representar a quantidade de THC presente no organismo decorridos 24h
do uso do cigarro? Como você representaria passados 2, 3,... e 5 dias do uso do
cigarro?
b) Como é
possível encontrar a quantidade de THC presente no organismo no 10º dia após o
uso do cigarro? E no 20º dia?
c) De acordo com
os dados obtidos nas questões anteriores a substância sairá totalmente do
organismo em algum momento? Justifique.
Várias foram às
discussões sobre a resolução destas questões. Dentre as três questões
propostas, a letra “a” foi respondida rapidamente. Muitos alunos chegaram ao
número 16, correspondente à quantidade de THC no organismo após um indivíduo
ter fumado dois cigarros e não ter feito uso subsequente. A partir daí, eles
seguiram fazendo as divisões por 2, pois já haviam entendido o conceito de
meia-vida.
Nesse momento,
percebi que a divisão de números racionais na forma decimal era um conteúdo que
eles não dominavam, pelo menos, no contexto escolar. Inicialmente um grupo
concluiu que no 5º dia a quantidade de THC zerava, pois o valor
encontrado no 4º dia era 1mg e disseram que não podia dividir mais por 2.
Porém, um dos alunos do grupo contestou e continuou a efetuar a divisão
chegando 0,025 mg. Dessa forma, o aluno demonstrou saber que poderia continuar
a dividir, mesmo a divisão estando errada, pois o valor correto seria de 0,25
mg.
Para responder sobre
a quantidade de THC no 10º e no 20º dia, a minha expectativa era que os alunos
desenvolvessem uma fórmula para esta dedução, ou seja, seria o momento de
modelar a situação. Isso não ocorreu. Alguns alunos tentaram fazer calculando a
quantidade de THC no organismo dia após dia, dividindo a quantidade de THC
encontrada no dia anterior por dois.
Um aluno compreendeu
o processo de divisão e usou a calculadora do celular. Quando percebi que os
alunos não conseguiriam chegar a uma fórmula, perguntei: Ao final de cinco
dias, quantos miligramas de THC têm no organismo? Vários alunos afirmaram 0,5
mg. Mais uma vez, perguntei se todos concordavam se realmente ficava esse
valor. Eles afirmaram que sim. Resolvi ir ao quadro e fui gradualmente
deduzindo uma expressão junto com eles.
Terminada a resolução
das questões ‘a’ e ‘b’, resolvemos a letra ‘c’. Após todas as discussões
realizadas enquanto resolviam as questões “a” e “b”, muitos alunos, antes de
concluírem a atividade, já afirmavam que a substância não sairia do organismo.
Os conhecimentos cotidianos, as informações que são peculiares aos alunos
estiveram presentes quando eles falaram sobre vícios de um indivíduo.
Para concluir a
atividade, cada grupo apresentou oralmente suas conclusões,
expondo suas opiniões. Falaram que este tipo de atividade era interessante,
pois abordava um problema livremente, sem precisar de conteúdo pré-determinado.
A última pergunta foi para um aluno, que, no início da aula, havia me
questionado sobre a relação da atividade com a matemática. Assim, devolvi a
pergunta a ele e obtive como resposta: “Tem sim professor. Podemos resolver
determinadas coisas com a matemática”.
A maior
dificuldade encontrada pelos alunos foi no momento de deduzir uma expressão.
Entretanto, de modo geral, a atividade foi realizada com sucesso e obtivemos
êxito com a mesma.